…o amor a esmagar 2018/2023
6 de Outubro de 2023
Independente
67:24


EÃO
- duas luas atadas numa valsa 04:21
- eu não aguento mais 05:37
- divindades urbanas 02:50
- céu sangra vermelho 04:08
- na rua de casa não sobe caminhão 02:46
- selene 04:31
- ataraxia 02:08
- língua materna 03:14
- estou tão cansado 03:31
PRESAS À TERRA
- arranca-me as asas 02:38
- chama inextinguível 03:44
- areópago 03:22
- sol entre as mãos 02:30
- cavalos nos meus sonhos 03:49
- empírea 04:45
- lúcifer 04:10
- urutau (mãe da lua) 06:40
- vinicius, o mundo inteiro e você 02:40
Gravado em diversas ocasiões entre 2018 e 2023.
Produzido, mixado e masterizado por Vinicius Mendes.
Todos os instrumentos, letra, música, e voz por Vinicius Mendes, exceto:
“Circeana”1, escrita por Lobélia Hadassa;
“divindades urbanas”2, escrita por Lucas da Silva.
Capa por Vinicius Mendes.
Letras
duas luas atadas numa valsa
Se lançassem um pano sobre todo esse oceano nada iriam encontrar, nada além de planos
Se contam sete mares e cortaram o mundo em partes porque devo ser só um?
Estou aqui, me encare
Aquele que conhecem aqui não se reconhece
Frente ao espelho são mais um, ninhada assim se perde
Assistir o mundo fora de si é gritar sem palavras
Eu rompo em pedaços, assim que me faço, um passo a tomar
Esses olhos castanhos quase dobram no tamanho quando teimam em fitar a parte em que brigamos
Parece um contra-ataque que minha visão dilate
No calor o urubu rodeia o baluarte
Ao me ver se esquece, mas me quer morta, confesse
Na distância o mar é azul e perto transparece
Viver no mundo inerte a si é girar a navalha
eu não aguento mais
O solo lateja, a areia compensa no fundo do mar
O frio é a certeza que a lua sangrenta hoje chegará
Sua profecia dizia que um dia tudo ia acabar
Acaba todo dia, é só você que não enxerga de lá
Eu não aguento mais ter de domar a força do mar
O reflexo no espelho de água turva não pode enganar
Quem vê a si mesmo não vê o retrato de quem nunca está
Hoje estou tão linda, queria que estivesse aqui pra enxergar
Eu teço os dias, erodo montanhas, eu domo o mar
A cada circuito fugaz
Vá embora e não me volte mais
Circe, o que lhe satisfaz?
divindades urbanas
Divindades urbanas na droga do metrô
Meu suor valendo quinhentos reais
Novas tecnologias, novas mídias
Matem a família
Não quero me esconder dos que não gostaram, não se encaixam corpos
Onde estão meus seios ou meus longos cílios?
Porque tão melancólico? Tirando o preto só lhe restam os ossos
Tudo pra tirar… mas que merda, começamos a conversar
Eu não vou ceder, nem você
céu sangra vermelho
Eu sempre tive medo do futuro
Esse céu nunca abrigou sonhos prematuros
Não leia minhas cartas, não me deixe confuso
Eu prefiro viver totalmente no escuro
Se um dia eu cantei que nunca acreditei prefiro não saber a me arrepender
Hoje enxerguei a lança dobrando-se à morte
Ninguém tem tanta força pra impedir que entorte
Não leia as estrelas, não teça minha sorte
A lua que ilumina é a mesma que corrói
Se um dia eu cantei que nunca acreditei prefiro não saber a me arrepender
O céu sangrou vermelho e ficou tudo escuro mas davam cinco horas ainda no meu pulso
Não leia minhas mãos que hoje eu tô tão sujo
O dia corre rápido e hoje eu corro junto
na rua de casa não sobe caminhão
Na rua de casa não sobe caminhão
As coisas mais pesadas içaram num cordão
Na escada lá de casa não sobe seu colchão
Tem coisa que se larga e eu nunca abro mão
As arcas batizadas
Tantas caixas só de bastas que eu nunca dei
Na rua de casa não sobe caminhão
As coisas mais pesadas posso levar nas mãos
selene
Eu canto e o oceano canta comigo também
O movimento dos mares não sabe da força que tem
Levantaram um gigante de aço na nossa cidade, quando ele ruir entre os mortos quem sabe eu me cale
Levantei, te vi sentada na beira da cama e falei: “tudo bem se eu sentar do seu lado até o dia amanhecer?”
“A Lua sabe o que faz, só porque você não vê o lado de lá não quer dizer que ele não sai”
Ontem vi a carruagem dourada rasgando os céus, parecia aquela que víamos no carrossel
Se o tempo vive com pressa corremos também
Eu faço as contas mas nunca sei quando ele vem
Escutei sua voz bem no pé do meu ouvido e me acalmei: “tudo bem se eu deitar no seu colo e torcer pro Sol se perder?”
“A Lua sabe o que faz, só porque você não vê o lado de lá não quer dizer que ele não sai”
É com você que eu corro de tudo e de todos
De tijolo em tijolo, um dia não vou precisar correr mais
ataraxia
A maior das falácias: toda roupa se assenta
Uma chave de braço vira chave de fenda
Ataraxia, quem acreditaria?
Ao pesar na balança o que eu devo cantar toda desconfiança deverá dissipar
Ataraxia, quem acreditaria?
Uma grande mudança
Toda chama é fogueira
Uma malha pesada estendida na mesa
Derramados na cama podem manifestar
Toda desconfiança deverá dissipar
Ataraxia, quem acreditaria?
língua materna
Eu sei quem sou e eu sei o que faço
Ainda corro dos nossos traços
Eu sei quem sou e eu sei o que eu faço
De correr tanto eu fiquei tão fraco
No chão gelado da tarde cinza
Tive de pagar a minha língua
Do chão gelado, da tarde cinza
Vou levantar toda uma vida
Eu aprendi a falar, mas não foi de te escutar
estou tão cansado
Meus pés cravejados não cedem ao pesado, o grosso do caldo que é perdurar
Vivo num cenário, um jardim de aço e o meu obstáculo é atravessar
Persisti insistindo que o forte é aguentar
Eu medi toda sombra até confessar que estou tão cansado
arranca-me as asas
Cisne, arrancam-me as asas
Eu não quero mais andar em meio a fumaça
Sou sim o trigo e a palha
A chama inextinguível incendeia a chapada
Hoje subindo pra casa
Ensinamentos primitivos resumidos num só fio do twitter
Só me tira daqui
chama inextinguível
O sol se pôs no quintal bem mais cedo, e eu sigo sorrindo
Minha pele arde com um fogo vermelho, violento e antigo que você deixa queimar
O canto dos deuses me pôs em silêncio, eterno castigo
Eu olho pros céus e só vejo seu erro irredimível e você deixou queimar
Você vai me escutar! Eu perco minha voz, mas não saio até vomitar
Você vai me escutar! Só tiro o pé da sua porta quando te ver queimar
areópago
Ergueu-se um porém à vossa majestade que de trás de um véu encenava divindades
Não beije o anel, é tão fácil ver a fraude
O universo não expande nem contrai numa só tarde
O velho acendeu — “Você chama isso de arte?” — uma cobra virulenta, esguiando-se à margem
“Se contas com o que é meu hoje sei o que lhe cabe… quando o vento corta ágil, não há um que não se cale”
Dizem que há um céu, não há quem o encare
A vista torna ao réu e o aço volta à carne.
Tamanha estupidez rugiu pela cidade que fedia a ferro de tanta crueldade
“Eu sou o carretel e eu sei da minha parte, me enforque com seu ouro que lhe finjo lealdade”
Um punho se estendeu do sangue do alfaiate, um urro harmonioso rasgava a cidade: “se contas com o que é meu hoje sei o que lhe cabe, se o vento corta ágil que um dia ele te cale!”
Dizem que há um réu, não há quem o encare
A vista torna ao céu e o aço volta à carne.
sol entre as mãos
Já disseram não
Seu sol entre as mãos
Você nunca foi de escutar
Se cantam o refrão você corre atrás
O foda é pensar que é capaz
Não se levanta, só cala sua boca
Escuta um pouco e cala sua boca
Já teve tudo então cala sua boca por um segundo
Já disseram não
Seu sol entre as mãos
Você nunca foi de lutar
cavalos nos meus sonhos
Ah da nascente ao oceano, jamais me antecipe os seus planos
Nada é tão mundano como não medir sua força ao arrancar
Há cavalos nesses campos
Banhe essas planícies num abano
Nós somos tão humanos ao não mirar o fundo com os pés e se afundar e eu, feito de barro, tendo a desmanchar.
A noite e seus demônios, venha e me cubra nesse manto
No mais profundo sono, sorte é de quem tem montaria pra guiar
Há cavalos nos meus sonhos
Por favor nos leve desse plano como um vulto branco
Entenda como um pranto o vento a soprar e eu feito de barro tendo a desmanchar
lúcifer
Inacabado lhe segui lampejo guiado
Ilusão nada é páreo
Cristais e cristais e cristais
Alaranjado assisti a luz do seu quarto
Perfeição irrefutável
Vitrais e vitrais e vitrais
Amanhã serei todos nós com todos os nós
Inabalável eu desci rente ao espaço
Direção eu sei o que faço
Digo sim, eu sei sim: sou assim.
urutau (mãe da lua)
Algo te inspira ponto de vista
Se sinto sede algo me guia
E como a água se torna física e toma vida
Enfim respira
Criamos deuses de corpos finitos
Enfim carrego algo divino
vinicius, o mundo inteiro e você
Tudo que cê sabe eu sei também, o que não sei eu finjo entender
A minha silhueta só cabe a mim e mais ninguém
A corda nunca diz que vai romper
Vinicius, hoje pude ver além
Além dos prédios sobre a serra, além
Um inseto ampliado em cem é inquieto aos olhos de quem?
Eu aceno e pisco porque me convém
Mas eu sei, eu sei, é tão fácil fingir ser alguém
Um deus, um rei, um mundo inteiro e você
Eu vi um espelho na minha tevê, não me escuta e teimo em responder
Eu vejo e você vê também — vejo sua boca se mexer — de onde eu tô você parece bem
Vinicius, hoje pude ver além
Além dos prédios sobre a serra, além
Um inseto ampliado em cem é inquieto aos olhos de quem?
Eu aceno e pisco porque me entretém
Mas eu sei, eu sei, não é fácil fingir ser alguém
Um deus, um rei, um mundo inteiro e você
Disponível também via Bandcamp.

- lobélia carvalho, circeana, Medium, 06 de Janeiro de 2024 ↩︎
- lvcasu, ᴅɪᴠɪɴᴅᴀᴅᴇꜱ ᴜʀʙᴀɴᴀꜱ (Violent Mix), Soundcloud, 2019 ↩︎
…o amor a esmagar 2018/2023 by Ultraluna is licensed under CC BY-NC-SA 4.0
